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 AFINAL O QUE CARACTERIZA A NOSSA GERAÇÃO LITERÁRIA ??


"Os primeiros registros de produção escrita de um autor natural de Angola remontam ao século XVII. Sem querer dizer que não houvera literatura angolana antes desta época, a literatura de cunho marcadamente tradicional que conhecemos tinha, não obstante, uma característica determinante: a de ser oral. Por que só a partir dos primeiros escritos conhecidos pudemos ter algum conhecimento concreto sobre o assunto.
Um dos primeiros escritos da literatura oral, segundo Carlos Ervedos, em seu "Roteiro da Literatura Angolana", por Saturnino de Sousa e Oliveira e, Manuel Alves de Castro Francina, um brasileiro e um angolano que, em seu livro, editado em 1864, Elementos Gramaticais da Língua Nbumdu, nos oferecem vinte provérbios em kimbundu(língua originária da região de Luanda e do centro e norte de Angola).
(...)
Pertence também a primeira metade do século XIX a publicação do primeiro livro de poemas de um escritor angolano, Espontaneidades da Minha Alma - As Senhoras Africanas, Por José da Silva Maia Ferreira... "
                                                               Notas para uma história da Literatura Angolana, por Licínio Menezes de Assis


É consensual entre diversos autores que a literatura angolana, durante toda sua evolução,  foi fortemente influenciada e "paradoxalmente promovida" pelos contextos social, político e económico. 

Apesar do contexto desfavorável é graças a gerações de autênticos homens/mulheres com o dom das letras, capacidade intelectual inspiradoras e determinação na defesa dos seus ideais (independentemente das adversidades) que se criaram gerações flóridas de escritores cada uma com as suas particularidades.

No fim do século XIX a produção era caracterizada por obras jornalísticas sobre a vida na colónia, alguns ensaios, poemas e romances fundamentalmente escritos em Luanda e Benguela, tendo as publicações um carácter efémero pelas implicações políticas. Sucedeu-se uma geração de jornalistas e escritores cuja frontalidade desafiava o poder vigente, iniciando assim, uma corrente para identidade cultural angolana e fortificação de ideais nacionalistas (UEA). Alguns dos nomes mais destacados desse período são Alfredo Troni e Cordeiro da Matta.
"Se numericamente o material deixado por esta geração nos parece exíguo, o seu maior legado está no entanto na capacidade que estes intelectuais tiveram de imprimir através da palavra, num contexto extremamente difícil e hostil, os primeiros passos para a transformação das consciências que desembocaria, décadas depois, no movimento dos "Novos Intelectuais de Angola", núcleo fundador do nacionalismo moderno".  
                                                                                                             Sobre a Génese da Literatura Angolana, por Pepetela 

No início do século XX (1901) um períodico (o único na altura) A Gazeta do Povo publicava um artigo que defendia vigorosamente a inferioridade dos negros, ao que um conjunto de onze autores nacionalistas respondia com a memorável obras colectivas intituladas "Voz de Angola" e "Clamando no Deserto" constituindo assim, a primeira geração angolana de intelectuais.  Um dos nomes mais destacados dessa elite foi Pedro de Paixão Franco e posteriormente António de Assis Júnior .
"Este grupo possuía uma orientação programática e como ponto de apoio para sua atividade tinham a difusão da educação e da instrução entre seus compatriotas. Desde esse momento, aqueles pensadores compreenderam que na instrução do povo estava o ponto de partida para o desenvolvimento socio-econômico do país, opondo-se desse modo a tendência acentuada do sistema colonialista à desfiguração sócio-cultural e histórica de Angola".

                                              Notas para uma história da Literatura Angolana, por Licínio Menezes de Assis

Adquire um destaque a contribuição de Castro Soromenho que é considerado um dos grandes representantes do início da literatura ficcional e introdução de alguns temas sociais das tribos antes da presença colonial. 

Já em 1948 surge o movimento "Vamos Descobrir Angola" . A partir da década de 50 evidenciou-se  uma classe intelectual, nacionalista cada vez mais reivindicativa, consciente do contexto nacional e internacional formando o movimento dos "Novos intelectuais de Angola".
"É no quadro desse ambiente de reconstrução da Europa que os intelectuais angolanos nascidos entre 1922 (Agostinho Neto 1922-1979), Viriato da Cruz (1928-1973) e 1934 (Mário António, 1934-1989), começam a produzir a sua obra literária. Para Mário Pinto de Andrade eles constituiriam aquilo a que chamou a Geração dos anos 20 . Simultaneamente, nesse mesmo período, resgista-se a concentração de uma grande vaga de estudantes oriundos das então colónias portuguesas. Pode dizer-se que para o caso de Angola, a década de 50 estende o foco da explosão intelectual, que vinha ocorrendo em Luanda, Benguela, Huambo e Lubango, para as cidades de Lisboa e Coimbra, os dois pólos da actividade académica universitária em Portugal.

Na extensa entrevista concedida por Mário Pinto de Andrade ( 21 de Agosto 1928 - 26 de Agosto 1990) antes da sua morte, a década de 50 representa na verdade o ponto culminante de uma actividade intelectual nunca vista em gerações anteriores. Prova disso é a criação do Centro de Estudos Africanos em Lisboa, nos anos 50". 
                                                                   Agostinho Neto e a Geração Literária de 40, por      Luís Kandjimbo 



Diante dessa pequena abordagem histórica excessivamente modesta para alguma homenagem aos feitos das gerações e autores citados, algumas questões afiguram-se à nossa actualidade, por exemplo: 

1.  Quais são os ideais/valores/princípios que norteiam a nossa geração literária ?

2. Antes talvez, convinha perguntarmo-nos se há algum factor de união na nossa geração ou estamos apenas a ser guiados por aspirações aleatórias e descontextualizadas ?

3. Afinal, quais são os nossos verdadeiros desafios... continuar o legado, seguir novos trilhos ou ambos ??

4. Que estratégias podem ser adoptadas tendo em vista a estimulação da juventude que parece estar mais interessada na actualização dos últimos toques de Kuduro ?

5. Afinal, o que nos caracteriza ? ...

Proponho um debate aberto a todos os apreciadores de literatura angolana que queiram expor nesse blogue as suas reflexões/opiniões.


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